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“Na Fronteira do Fim do Mundo”: documentário desnuda a realidade de municípios paraenses afetados pela mineração

No primeiro trimestre de 2021, enquanto o Brasil e o mundo ainda se debatiam em plena pandemia, a mineradora Vale lucrou 40 bilhões de reais, o maior lucro trimestral das empresas brasileiras de capital aberto na história do País, superior a todo o orçamento anual do Estado do Pará previsto para este ano, estimado em 31,3 bilhões de reais.

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É essa relação desigual que se sobressai no documentário “Na Fronteira do Fim do Mundo’, uma realização da produtora Floresta Urbana e Sindicato dos Servidores no Fisco Estadual do Pará (Sindifisco-PA). O documentário foi lançado no final do ano passado, em Belém, durante o Seminário Internacional “Justiça Fiscal, Desigualdade e Desenvolvimento no Estado do Pará” e, logo depois, foi selecionado para o concurso Primavera/2022 do festival canadense Montreal Independent Film (MIFF).
O filme traça um panorama da atividade mineradora no Estado e suas consequências, quase sempre mais carregadas de impactos negativos que necessariamente desenvolvimento adequado e sustentável aos estados e municípios onde a atividade é dominante.
“O filme mostra como a implantação de projetos minerais acaba por tornar todo seu entorno em dependentes. Há um esvaziamento de movimentos sociais e, muitas vezes, um estado permanente de vigilância sobre comunidades”, afirma Ismael Machado, que assina roteiro e direção do longa-documentário.
É o que se vê nas ameaças de desalojamento de moradores de assentamentos, famílias de pequenos agricultores cuja terra, em Canaã dos Carajás, por exemplo, pode ser atravessada por estradas de ferro. O filme traz depoimentos de colonos, quase todos migrantes, cujo sonho sempre foi cultivar a terra. “Eu quero envelhecer aqui”, diz uma das moradoras do assentamento Alto da Serra na zona rural de Canaã dos Carajás.
Ao longo de pouco mais de 50 minutos, o documentário debruça-se sobre as consequências da atividade mineradora para além da propaganda oficial. O município de Canaã dos Carajás, por exemplo, era um grande produtor de leite, queijos e tinha na produção agrícola um motor comercial. Com a descoberta de minérios como o cobre no subsolo, o município passou a vivenciar o que o pesquisador Bruno Malheiro classifica como ‘minério-dependência’. “A mineração ataca o metabolismo da vida”, resume o pesquisador. “Aqui não se produz mais quase nada na terra”, atesta uma liderança conhecida por Pixilinga.
Entre a euforia de uma pequena elite local nos municípios bafejados pela mineração, há também um cinturão de pobreza e um aprofundamento do desgaste ambiental. “É como se eu estivesse testemunhando a fronteira do fim do mundo”, afirma o procurador da República Igor Lima, em Marabá.
O documentário é uma parceria entre o Sindifisco e a Floresta Urbana. A produtora recentemente lançou o curta-documentário Amador, Zélia. A ideia de um filme que pudesse expandir as discussões sobre os impactos da mineração no Pará surgiu do presidente do Sindifisco Charles Alcantara. O Sindicato tem feito um alentado estudo sobre questões relacionadas à desigualdade tributária envolvendo as grandes empresas mineradoras no Pará. “Na Fronteira do Fim do Mundo” nasceu a partir desses questionamentos.
Uma das vozes destacadas no documentário é da professora Maria Amélia Enriquez, da Universidade Federal do Pará (UFPA), autora da série  “Estudos da Mineração no Pará” - Volume I” que, em parceria com o Sindifisco, tem buscado traduzir em números o grande paradoxo instalado nos municípios mineradores, fontes de altos lucros para acionistas, mas geradores de bolsões de miséria para suas populações.    
A equipe de filmagem se deslocou por mais de um mês entre os municípios de Marabá, Parauapebas e Canaã dos Carajás. A direção de fotografia é de Glauco Melo e a produção de Michelle Maia e Aline Paes. A colaboração no roteiro e na edição é de Vlad Cunha. Argumento Ismael Machado e Charles Alcantara. A edição é de Arthur Santos. A trilha sonora da banda pernambucana Cordel do Fogo Encantado, com a música Aqui (ou memórias do cárcere).

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